FORMAS POÉTICAS 37 - SOLAU
Seria um tipo originário da poesia dos trovadores, mas em nenhum lugar sua estrutura se define.
Parece que o padrão vem mesmo em Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. Mas ainda assim é, como ele declara, apenas um "cantar a maneira de solau, que era o que, nas cousas tristes, se acostumava". Nem leva o nome de solau.
Seria um tipo originário da poesia dos trovadores, mas em nenhum lugar sua estrutura se define.
Parece que o padrão vem mesmo em Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. Mas ainda assim é, como ele declara, apenas um "cantar a maneira de solau, que era o que, nas cousas tristes, se acostumava". Nem leva o nome de solau.
ROMANCE
"Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe m'está lembrando;
enchem-se-me os olhos d'água,
nela vos estou lavando.
"Nascestes, filha, entre mágoa;
para bem inda vos seja!
Pois em vosso nascimento
Fortuna vos houve inveja.
"Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes:
vossa mãe era finada,
nós outros éramos tristes.
"Nada em dor, em dor criada,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa
com olhos verdes crescer.
"Não era esta graça vossa
para nascer em desterro.
Mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro!
"Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
"Não ouvem fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar.
"Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós, se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem.
"Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascerdes,
com esse riso gracioso
que tendes sob olhos verdes.
"Conforto, mas duvidoso,
me é este que tomo assi;
Deus vos dê melhor ventura
do que tivestes té 'qui.
"A Dita, e a Formosura,
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas.
"Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos.
"Mas nenhum mal não é crido;
o bem só é esperado:
e na crença, e na esperança,
em ambas há 'i cuidado,
em ambas há 'i mudança".
"Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe m'está lembrando;
enchem-se-me os olhos d'água,
nela vos estou lavando.
"Nascestes, filha, entre mágoa;
para bem inda vos seja!
Pois em vosso nascimento
Fortuna vos houve inveja.
"Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes:
vossa mãe era finada,
nós outros éramos tristes.
"Nada em dor, em dor criada,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa
com olhos verdes crescer.
"Não era esta graça vossa
para nascer em desterro.
Mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro!
"Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
"Não ouvem fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar.
"Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós, se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem.
"Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascerdes,
com esse riso gracioso
que tendes sob olhos verdes.
"Conforto, mas duvidoso,
me é este que tomo assi;
Deus vos dê melhor ventura
do que tivestes té 'qui.
"A Dita, e a Formosura,
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas.
"Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos.
"Mas nenhum mal não é crido;
o bem só é esperado:
e na crença, e na esperança,
em ambas há 'i cuidado,
em ambas há 'i mudança".
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