FORMAS POÉTICAS 18 — GLOSA
Na glosa, o poeta recebe um tema, para desenvolvê-lo em versos. O motivo ou tema pode ser um simples verso ou uma estrofe. Nesta composição do gênero lírico, o final de cada estrofe é um dos versos do mote.
O mote seguinte foi glosado por Gregório de Matos.
Na glosa, o poeta recebe um tema, para desenvolvê-lo em versos. O motivo ou tema pode ser um simples verso ou uma estrofe. Nesta composição do gênero lírico, o final de cada estrofe é um dos versos do mote.
O mote seguinte foi glosado por Gregório de Matos.
MOTE
A mais formosa que Deus
GLOSA
Com duas donzelas vim,
Ontem, de uma romaria:
Uma, feia parecia;
Outra — era um serafim.
E, vendo-as eu assim,
Sós, sem os amantes seus,
Perguntei-lhes: — Anjos meus,
Que vos pôs em tal estado?
Disse a feia — que o pecado;
A mais formosa, — que Deus.
A mais formosa que Deus
GLOSA
Com duas donzelas vim,
Ontem, de uma romaria:
Uma, feia parecia;
Outra — era um serafim.
E, vendo-as eu assim,
Sós, sem os amantes seus,
Perguntei-lhes: — Anjos meus,
Que vos pôs em tal estado?
Disse a feia — que o pecado;
A mais formosa, — que Deus.
Agora vem uma glosa feita por Camões.
MOTE ALHEIO
Campos bem-aventurados,
Tornai-vos agora tristes;
Que os dias, em que me vistes,
Alegres já são passados.
GLOSA
Campos cheios de prazer,
Vós que estais reverdecendo,
Já me alegrei com vos ver;
Agora venho a temer
Que entristeçais em me vendo.
E pois a vista alegrais
Dos olhos desesperados,
Não quero que me vejais,
Para que sempre sejais,
Campos, bem-aventurados.
Porém se por acidente
Vos pesar de meu tormento,
Sabereis que Amor consente
Que tudo me descontente,
Senão descontentamento.
Por isso vós, arvoredos,
Que já nos meus olhos vistes
Mais alegria, que medos,
Se mos quereis fazer ledos,
Tornai-vos agora tristes.
Já me vistes ledo ser,
Mas depois que o falso Amor
Tão triste me fez viver,
Ledos folgo de vos ver,
Porque me dobreis a dor.
E se este gosto sobejo
De minha dor me sentistes,
Julgai quanto mais desejo
As horas que vos não vejo,
Que os dias em que me vistes.
O tempo, que é desigual,
De secos, verdes vos tem;
Porque em vosso natural
Se muda o mal para o bem,
Mas o meu para mor mal.
Se perguntais, verdes prados,
Pelos tempos diferentes
Que de Amor me foram dados,
Tristes, aqui são presentes,
Alegres, já são passados.
Campos bem-aventurados,
Tornai-vos agora tristes;
Que os dias, em que me vistes,
Alegres já são passados.
GLOSA
Campos cheios de prazer,
Vós que estais reverdecendo,
Já me alegrei com vos ver;
Agora venho a temer
Que entristeçais em me vendo.
E pois a vista alegrais
Dos olhos desesperados,
Não quero que me vejais,
Para que sempre sejais,
Campos, bem-aventurados.
Porém se por acidente
Vos pesar de meu tormento,
Sabereis que Amor consente
Que tudo me descontente,
Senão descontentamento.
Por isso vós, arvoredos,
Que já nos meus olhos vistes
Mais alegria, que medos,
Se mos quereis fazer ledos,
Tornai-vos agora tristes.
Já me vistes ledo ser,
Mas depois que o falso Amor
Tão triste me fez viver,
Ledos folgo de vos ver,
Porque me dobreis a dor.
E se este gosto sobejo
De minha dor me sentistes,
Julgai quanto mais desejo
As horas que vos não vejo,
Que os dias em que me vistes.
O tempo, que é desigual,
De secos, verdes vos tem;
Porque em vosso natural
Se muda o mal para o bem,
Mas o meu para mor mal.
Se perguntais, verdes prados,
Pelos tempos diferentes
Que de Amor me foram dados,
Tristes, aqui são presentes,
Alegres, já são passados.
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