Eu sou por Natureza feito para meu próprio bem; não para meu próprio mal.

Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.


sábado, 23 de agosto de 2014

BECO SEM SAÍDA — Charles Bukowski

demasiado, muito pouco,

muito gordo
muito magro
ou ninguém.

risadas ou
lágrimas

rancorosos
amorosos

estranhos com faces como
a parte de trás de
tachas de pregar papel

exércitos que correm através
de ruas de sangue
abanando garrafas de vinho
abaionetando e fodendo
virgens.

um cara velho num quarto barato
com uma fotografia de M. Monroe.

há uma solidão tão grande neste mundo
que você pode vê-la no movimento lento
dos ponteiros de um relógio

pessoas tão cansadas
mutiladas
por amor ou nenhum amor.

pessoas apenas não são boas umas com as outras
uma por uma.

o rico não é bom para o rico
o pobre não é bom para o pobre.

nós temos medo.

nosso sistema educacional nos ensina
que nós podemos todos ser
tolos e pomposos vencedores

não nos ensinou
sobre as sarjetas
ou os suicídios.

ou o terror de uma pessoa
sofrendo em algum lugar


intocada
inexpressa

regando uma planta.

pessoas não são boas umas com as outras.
pessoas não são boas umas com as outras.
pessoas não são boas umas com as outras.

eu suponho elas nunca serão.
eu não lhes peço que sejam.

mas às vezes eu penso sobre
isto.

as gotas gotejarão
as nuvens nuvearão
e o assassino decapitará a criança
como se desse uma mordida num cone de sorvete.

demasiado
muito pouco

muito gordo
muito magro
ou ninguém

mais rancorosos do que amorosos.

pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.

enquanto isso eu olho para mocinhas
talos
flores da casualidade.

deve haver um jeito.

seguramente deve haver um jeito que nós ainda não temos,
no entanto, de.

quem pôs este cérebro dentro de mim?

ele chora
exige
diz que há uma chance.

ele não dirá
"não".

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