FORMAS POÉTICAS 08 — CANTO REAL
O canto real é construído com cinco estrofes, de onze versos em geral, terminando por uma estância menor, chamada envio ou oferta, e que tem cinco ou seis versos. As rimas são simétricas. O último verso de cada estrofe é o mesmo. Pertence ao gênero lírico. Em seguida, vai o Canto Real do Poeta, de Goulart de Andrade.
O canto real é construído com cinco estrofes, de onze versos em geral, terminando por uma estância menor, chamada envio ou oferta, e que tem cinco ou seis versos. As rimas são simétricas. O último verso de cada estrofe é o mesmo. Pertence ao gênero lírico. Em seguida, vai o Canto Real do Poeta, de Goulart de Andrade.
Numa planície rasa está deitado
Um membrudo Titã fitando o céu:
Parece um promontório alcantilado
Ao mar opondo o enorme vulto seu!
Inerte jaz-lhe o corpo. A fantasia,
Esta, as penas arrufa, e desafia
Num largo voo o espaço tentador...
Dá-lhe força o desejo de transpor
Os mistérios da célica planura,
Porém, minada de impotência e dor,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
Pensa em galgar o páramo azulado,
— Leito da estrela e ninho do escarcéu ! —
Se embaixo é tudo mal-aventurado,
Em cima, por detrás daquele véu,
Há de vibrar em lúcida harmonia
O Éter! Talvez a luz de eterno dia
Aclare o gozo eterno, o eterno amor!...
E alonga o aflito olhar indagador:
Sonda a amplidão... ainda o alçar procura...
Porém, num gesto desconsolador,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
Do cavernoso e grosso peito um brado
Horrendo e rouco, ríspido, irrompeu,
Misto de angústia, ameaça e desagrado;
Depois, lesto, de um salto, o corpo ergueu,
E andou, pesado de melancolia...
Rude calhau, no saibro que irradia,
Descobre, e aos céus o arroja com vigor
Para medir o espaço! Em vão se opor
Tenta a rajada : — a pedra a nuvem fura !
Mas, terminando o impulso animador,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
Ao longe, nos confins do descampado,
Vendo um monte que em lavas acendeu
Outrora o augusto cimo alcandorado,
Presto seus passos para lá moveu.
Com os ressaltados músculos porfia
Em derrocar agreste penedia
Para levá-la ao alto, e sobrepor
Assim, montes a montes... Com furor
Lida, luta, ora a impele, ora a segura,
Mas a penha, no aspérrimo pendor,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
Sem descansar do intento começado
Penedos e penedos suspendeu
Nos portentosos braços. Alquebrado
Inda um bruto penhasco arremeteu
Nuvens acima! Suores de agonia
Vão-lhe aljofrando o torso e a fronte fria...
Mas ele julga entrar pelo esplendor
Do céu! Ó tredo sonho embalador!
A nuvem passa: é o Vácuo, a imensa Altura!
E o Titã, faces num mortal palor,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
OFERTÓRIO
Poeta, que tanto estiolas teu verdor
No embate rijo e desesperador
Pela Forma imortal que te amargura,
Se à Perfeição não chegas, lutador,
Estaca... e rola sobre a terra escura!
Nenhum comentário :
Postar um comentário