Eu sou por Natureza feito para meu próprio bem; não para meu próprio mal.

Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

NO TÚMULO D'UM MENINO — Casimiro de Abreu

FORMAS POÉTICAS 14 — ELEGIA
Elegia ou Treno é uma composição de tristeza e de luto. Pertence ao gênero lírico. Tem como variante a Nênia ou Epicédio, em que se lamenta a morte de alguém. A mais famosa nênia da literatura brasileira é o Cântico do Calvário, escrita por Fagundes Varela por ocasião da morte de seu filho. É uma obra prima, mas tão triste, que não vou reproduzi-la aqui.
Outra variante da elegia é a Endecha ou Romancilho. Nesse tipo de composições se exprime melancolia e desenganos, em versos heptassílabos. Eis algumas endechas de Camões:
ENDECHAS A BÁRBARA ESCRAVA

Aquela cativa,
Que me tem cativo,
Porque nela vivo,
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas,
Me parecem belas,
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião,
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha,
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena,
Que a tormenta amansa:
Nela enfim descansa
Toda minha pena.
Esta é a cativa,
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.

A última variante da elegia é o Epitáfio, versos para serem inscritos no túmulo. Segue um exemplo de Casimiro de Abreu.

NO TÚMULO D'UM MENINO

Um anjo dorme aqui: na aurora apenas,
Disse adeus ao brilhar das açucenas
Sem ter da vida alevantado o véu.
— Rosa tocada do cruel granizo —
Cedo finou-se e no infantil sorriso
Passou do berço p'ra brincar no céu!

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