FELIZ NATAL!
Eu sou por Natureza feito para meu próprio bem; não para meu próprio mal.
Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.
Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
QUANDO A MORTE CERRAR MEUS OLHOS DUROS — Manuel Bandeira
FORMAS POÉTICAS 38 — SONETO [3]
O soneto do tipo inglês termina por um dístico. Um exemplo famoso foi composto por Manuel Bandeira.
O soneto do tipo inglês termina por um dístico. Um exemplo famoso foi composto por Manuel Bandeira.
SONETO INGLÊS Nº 1
Quando a morte cerrar meus olhos duros
— Duros de tantos vãos padecimentos,
Que pensarão teus peitos imaturos
Da minha dor de todos os momentos?
Vejo-te agora alheia, e tão distante:
Mais que distante — isenta. E bem prevejo,
Desde já bem prevejo o exato instante
Em que de outro será não teu desejo,
Que o não terás, porém teu abandono,
Tua nudez! Um dia hei de ir embora
Adormecer no derradeiro sono.
Um dia chorarás... Que importa? Chora.
Então eu sentirei muito mais perto
De mim feliz, teu coração incerto.
Quando a morte cerrar meus olhos duros
— Duros de tantos vãos padecimentos,
Que pensarão teus peitos imaturos
Da minha dor de todos os momentos?
Vejo-te agora alheia, e tão distante:
Mais que distante — isenta. E bem prevejo,
Desde já bem prevejo o exato instante
Em que de outro será não teu desejo,
Que o não terás, porém teu abandono,
Tua nudez! Um dia hei de ir embora
Adormecer no derradeiro sono.
Um dia chorarás... Que importa? Chora.
Então eu sentirei muito mais perto
De mim feliz, teu coração incerto.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
IDEALISMO — Augusto dos Anjos
FORMAS POÉTICAS 38 — SONETO [2]
O soneto petrarquesco — cuja forma Petrarca definiu na Itália — foi modificado em França por Clément Marot, que introduziu nos catorze versos a única disposição dos tercetos proibida anteriormente: a criação de um dístico no meio do poema. O soneto seguinte, de autoria de Augusto dos Anjos, segue a forma do soneto francês 'marotiano', com esquema rímico abba abba ccd eed.
O soneto petrarquesco — cuja forma Petrarca definiu na Itália — foi modificado em França por Clément Marot, que introduziu nos catorze versos a única disposição dos tercetos proibida anteriormente: a criação de um dístico no meio do poema. O soneto seguinte, de autoria de Augusto dos Anjos, segue a forma do soneto francês 'marotiano', com esquema rímico abba abba ccd eed.
IDEALISMO
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
COM CARÍCIAS BRUTAIS E COM CARÍCIAS MANSAS, CUIDO QUE TU ME VENS — Gilka Machado
FORMAS POÉTICAS 38 — SONETO [1]
A palavra soneto vem do italiano 'sonetto', derivada por sua vez de 'son', que era um tipo de canção ou poema dos trovadores provençais.
O soneto é um poema composto por catorze versos decassílabos, agrupados em duas quadras — com rimas alternadas ou cruzadas — e dois tercetos com rima variada.
Sua invenção é atribuída a Giacomo (ou Jacopo) da Lentini, poeta siciliano que adaptava as poesias dos trovadores ao italiano.
O soneto seguinte — da poetisa Gilka Machado — segue o esquema rímico abab abab cdc ede.
A palavra soneto vem do italiano 'sonetto', derivada por sua vez de 'son', que era um tipo de canção ou poema dos trovadores provençais.
O soneto é um poema composto por catorze versos decassílabos, agrupados em duas quadras — com rimas alternadas ou cruzadas — e dois tercetos com rima variada.
Sua invenção é atribuída a Giacomo (ou Jacopo) da Lentini, poeta siciliano que adaptava as poesias dos trovadores ao italiano.
O soneto seguinte — da poetisa Gilka Machado — segue o esquema rímico abab abab cdc ede.
AO VENTO
Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda a feição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.
O vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
e tanto penso em ti, ó meu ausente amado,
que te sinto no vento e a ele, feliz, me exponho!
Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me apenas tua,
— sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças...
E não podes saber do meu gozo violento
quando me fico, assim, neste ermo, toda nua,
completamente exposta à volúpia do vento!
Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda a feição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.
O vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
e tanto penso em ti, ó meu ausente amado,
que te sinto no vento e a ele, feliz, me exponho!
Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me apenas tua,
— sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças...
E não podes saber do meu gozo violento
quando me fico, assim, neste ermo, toda nua,
completamente exposta à volúpia do vento!
Gilka Machado, in Estados de Alma.
Franças = Conjunto das ramificações menores da copa das árvores.
Franças = Conjunto das ramificações menores da copa das árvores.
sábado, 17 de janeiro de 2015
PENSANDO-VOS ESTOU, FILHA; VOSSA MÃE M'ESTÁ LEMBRANDO — Bernardim Ribeiro
FORMAS POÉTICAS 37 - SOLAU
Seria um tipo originário da poesia dos trovadores, mas em nenhum lugar sua estrutura se define.
Parece que o padrão vem mesmo em Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. Mas ainda assim é, como ele declara, apenas um "cantar a maneira de solau, que era o que, nas cousas tristes, se acostumava". Nem leva o nome de solau.
Seria um tipo originário da poesia dos trovadores, mas em nenhum lugar sua estrutura se define.
Parece que o padrão vem mesmo em Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. Mas ainda assim é, como ele declara, apenas um "cantar a maneira de solau, que era o que, nas cousas tristes, se acostumava". Nem leva o nome de solau.
ROMANCE
"Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe m'está lembrando;
enchem-se-me os olhos d'água,
nela vos estou lavando.
"Nascestes, filha, entre mágoa;
para bem inda vos seja!
Pois em vosso nascimento
Fortuna vos houve inveja.
"Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes:
vossa mãe era finada,
nós outros éramos tristes.
"Nada em dor, em dor criada,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa
com olhos verdes crescer.
"Não era esta graça vossa
para nascer em desterro.
Mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro!
"Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
"Não ouvem fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar.
"Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós, se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem.
"Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascerdes,
com esse riso gracioso
que tendes sob olhos verdes.
"Conforto, mas duvidoso,
me é este que tomo assi;
Deus vos dê melhor ventura
do que tivestes té 'qui.
"A Dita, e a Formosura,
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas.
"Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos.
"Mas nenhum mal não é crido;
o bem só é esperado:
e na crença, e na esperança,
em ambas há 'i cuidado,
em ambas há 'i mudança".
"Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe m'está lembrando;
enchem-se-me os olhos d'água,
nela vos estou lavando.
"Nascestes, filha, entre mágoa;
para bem inda vos seja!
Pois em vosso nascimento
Fortuna vos houve inveja.
"Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes:
vossa mãe era finada,
nós outros éramos tristes.
"Nada em dor, em dor criada,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa
com olhos verdes crescer.
"Não era esta graça vossa
para nascer em desterro.
Mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro!
"Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
"Não ouvem fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar.
"Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós, se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem.
"Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascerdes,
com esse riso gracioso
que tendes sob olhos verdes.
"Conforto, mas duvidoso,
me é este que tomo assi;
Deus vos dê melhor ventura
do que tivestes té 'qui.
"A Dita, e a Formosura,
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas.
"Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos.
"Mas nenhum mal não é crido;
o bem só é esperado:
e na crença, e na esperança,
em ambas há 'i cuidado,
em ambas há 'i mudança".
domingo, 4 de janeiro de 2015
SEMPRE ME QUEIXAREI DESTA CRUEZA QUE AMOR USOU COMIGO — Camões
FORMAS POÉTICAS 36 — SEXTINA
A sextina é constituída por seis sextilhas, arrematadas por um terceto. As mesmas palavras repetidas formam as rimas. O final do último verso da sextilha anterior é repetido no primeiro verso da sextilha seguinte. Esse exemplo vem de Camões.
A sextina é constituída por seis sextilhas, arrematadas por um terceto. As mesmas palavras repetidas formam as rimas. O final do último verso da sextilha anterior é repetido no primeiro verso da sextilha seguinte. Esse exemplo vem de Camões.
SEXTINA IV
Sempre me queixarei desta crueza
Que Amor usou comigo quando o tempo,
Apesar de meu duro e triste fado,
A meus males queria dar remédio,
Em apartar de mim aquela vista,
Por quem me contentava a triste vida.
Levara- me, oxalá, trás ela a vida,
Para que não sentira esta crueza
De me ver apartado de tal vista!
E praza a Deus não veja o próprio tempo
Em mim, sem esperança de remédio,
A desesperação d'um triste fado!
Porém já acabe o triste e duro fado!
Acabe o tempo já tão triste vida,
Que em sua morte só tem seu remédio.
O deixar-me viver é mór crueza,
Pois desespero já de em algum tempo
Tornar a ver aquela doce vista.
Duro Amor! se pagava só tal vista
Todo o mal que por ti me fez meu fado,
Porque quiseste que a levasse o tempo?
E se o assim quiseste, porque a vida
Me deixas para ver tanta crueza,
Quando em não vê-la só vejo o remédio?
Tu só de minha dor eras remédio,
Suave, deleitosa e bela vista.
Sem ti, que posso eu ver senão crueza?
Sem ti, qual bem me pôde dar o fado,
Se não é consentir que acabe a vida?
Mas ele d'ela me dilata o tempo.
Asas para voar vejo no tempo,
Que com voar a muitos foi remédio;
E só não voa para a minha vida.
Para que a quero eu sem tua vista?
Para que quer também o triste fado
Que não acabe o tempo tal crueza?
Não poderão fazer crueza, ou tempo,
Força de fado, ou falta de remédio,
Que essa vista me esqueça em toda a vida.
Sempre me queixarei desta crueza
Que Amor usou comigo quando o tempo,
Apesar de meu duro e triste fado,
A meus males queria dar remédio,
Em apartar de mim aquela vista,
Por quem me contentava a triste vida.
Levara- me, oxalá, trás ela a vida,
Para que não sentira esta crueza
De me ver apartado de tal vista!
E praza a Deus não veja o próprio tempo
Em mim, sem esperança de remédio,
A desesperação d'um triste fado!
Porém já acabe o triste e duro fado!
Acabe o tempo já tão triste vida,
Que em sua morte só tem seu remédio.
O deixar-me viver é mór crueza,
Pois desespero já de em algum tempo
Tornar a ver aquela doce vista.
Duro Amor! se pagava só tal vista
Todo o mal que por ti me fez meu fado,
Porque quiseste que a levasse o tempo?
E se o assim quiseste, porque a vida
Me deixas para ver tanta crueza,
Quando em não vê-la só vejo o remédio?
Tu só de minha dor eras remédio,
Suave, deleitosa e bela vista.
Sem ti, que posso eu ver senão crueza?
Sem ti, qual bem me pôde dar o fado,
Se não é consentir que acabe a vida?
Mas ele d'ela me dilata o tempo.
Asas para voar vejo no tempo,
Que com voar a muitos foi remédio;
E só não voa para a minha vida.
Para que a quero eu sem tua vista?
Para que quer também o triste fado
Que não acabe o tempo tal crueza?
Não poderão fazer crueza, ou tempo,
Força de fado, ou falta de remédio,
Que essa vista me esqueça em toda a vida.
sábado, 3 de janeiro de 2015
MINHA ALMA ARREMESSEI RUMO AO ETERNO — Omar Khâyyâm
FORMAS POÉTICAS 35 — RUBAI
O rubai, forma poética famosa por causa de Omar Khâyyâm, cujo nome significa Omar, o Fazedor de Tendas. Foi cientista e poeta. O rubai é uma quadra, tendo a mesma rima no primeiro, no segundo e no quarto versos; e o terceiro, solto. O exemplo vem da tradução de Geir Campos.
O rubai, forma poética famosa por causa de Omar Khâyyâm, cujo nome significa Omar, o Fazedor de Tendas. Foi cientista e poeta. O rubai é uma quadra, tendo a mesma rima no primeiro, no segundo e no quarto versos; e o terceiro, solto. O exemplo vem da tradução de Geir Campos.
Minha alma arremessei rumo ao Eterno,
para ler o Destino em seu caderno,
mas dentro em pouco a alma tornou a mim
e disse: "Eu mesma sou o Céu e o Inferno!"
para ler o Destino em seu caderno,
mas dentro em pouco a alma tornou a mim
e disse: "Eu mesma sou o Céu e o Inferno!"
quinta-feira, 1 de janeiro de 2015
LUZ DO SOL, QUANTO ÉS FORMOSA — Silva Alvarenga
FORMAS POÉTICAS 34 — RONDÓ [4]
Para encerrar, o rondó arcádico tem uma quadra-refrão entre duas quadras ou uma oitava. Os versos são redondilhas maiores, com rimas encadeadas. O poeta que melhor realizou esse tipo de poema foi Silva Alvarenga.
Para encerrar, o rondó arcádico tem uma quadra-refrão entre duas quadras ou uma oitava. Os versos são redondilhas maiores, com rimas encadeadas. O poeta que melhor realizou esse tipo de poema foi Silva Alvarenga.
A LUZ DO SOL
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Quando puro se derrama
Vivo ardor no ameno prado,
Pelas brenhas foge o gado
Verde rama a procurar.
E se o astro luminoso
Deixa tudo em sombra fusca
Triste então o abrigo busca
Vagaroso a ruminar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Lavrador, que aflito e velho,
Sobre o campo endurecido,
Ver deseja submergido
O vermelho sol no mar.
E se o úmido negrume
Tolda os céus, e os vales banha,
Fita os olhos na montanha,
Onde o lume vê raiar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Pela tarde mais ardente
O pastor estima as grutas,
Onde penhas nunca enxutas
Vê contente gotejar.
E se as trevas no horizonte
Desenrolam negro manto,
Com saudoso e flébil* canto
Faz o monte ressonar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Assim Glaura, que inflamada
Perseguiu aves ligeiras,
Quer à sombra das mangueiras
Descansada respirar.
Entre risos, entre amores,
Se lhe falta o dia, chora,
E vem cedo a ver a aurora
Sobre as flores orvalhar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Quando puro se derrama
Vivo ardor no ameno prado,
Pelas brenhas foge o gado
Verde rama a procurar.
E se o astro luminoso
Deixa tudo em sombra fusca
Triste então o abrigo busca
Vagaroso a ruminar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Lavrador, que aflito e velho,
Sobre o campo endurecido,
Ver deseja submergido
O vermelho sol no mar.
E se o úmido negrume
Tolda os céus, e os vales banha,
Fita os olhos na montanha,
Onde o lume vê raiar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Pela tarde mais ardente
O pastor estima as grutas,
Onde penhas nunca enxutas
Vê contente gotejar.
E se as trevas no horizonte
Desenrolam negro manto,
Com saudoso e flébil* canto
Faz o monte ressonar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Assim Glaura, que inflamada
Perseguiu aves ligeiras,
Quer à sombra das mangueiras
Descansada respirar.
Entre risos, entre amores,
Se lhe falta o dia, chora,
E vem cedo a ver a aurora
Sobre as flores orvalhar.
Luz do sol, quanto és formosa,
Quem te goza não conhece;
Mas se desce a noite fria,
Principia a suspirar.
Silva Alvarenga, in Glaura, Poemas Eróticos, Rondós.
* flébil = choroso, lacrimoso.
* flébil = choroso, lacrimoso.
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