Eu sou por Natureza feito para meu próprio bem; não para meu próprio mal.

Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.


quinta-feira, 31 de julho de 2014

SOLEDADES, XI — Antonio Machado

Yo voy soñando caminos
de la tarde. ¡Las colinas
doradas, los verdes pinos,
las polvorientas encinas!...
¿Adonde el camino irá?
Yo voy cantando, viajero
a lo largo del sendero...
-La tarde cayendo está-,
"En el corazón tenía
la espina de una pasión;
logré arrancármela un día:
ya no siento el corazón."
Y todo el campo un momento
se queda, mudo y sombrío,
meditando. Suena el viento
en los álamos del río.
La tarde más se obscurece;
y el camino que serpea
y débilmente blanquea,
se enturbia y desaparece.
Mi cantar vuelve a plañir:
"Aguda espina dorada,
quién te pudiera sentir
en el corazón clavada."

POEMA 20 — Pablo Neruda

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa, que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

terça-feira, 29 de julho de 2014

VIDA OBSCURA — Cruz e Souza

Ninguém sentiu o teu espanto obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto de prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A ALEGRIA DOS PEIXES — Zhuangzi

Em certa cidade, tem um bairro chamado Paraíso das Piabas. Esse belo nome lembra o diálogo entre Zhuangzi e Hui Zi.

Zhuangzi e Hui Zi estavam passeando numa ponte que atravessa o rio Hao, quando pararam por um momento.
Zhuangzi disse:
— Os peixes surgem e nadam tão devagar. Assim é que os peixes se alegram.
Hui Zi disse:
— Você não é um peixe. Como sabe que é assim que os peixes se alegram?
Zhuangzi disse:
— Você não é eu. Como sabe que eu não sei que é assim que os peixes se alegram?
Hui Zi disse:
— Eu não sou você e por isso, certamente, não sei o que você sabe. Você, certamente, não é um peixe e assim você não pode saber com certeza como um peixe se alegra!
Zhuangzi disse:
— Por favor, lembre-se do começo desta conversa. Você me perguntou como eu sabia que os peixes estavam se alegrando. Você é que fez a pergunta. Você já sabia que eu sabia disso, mas você me perguntou de qualquer maneira. Eu soube disso quando nós paramos aqui.

sábado, 26 de julho de 2014

MEMÓRIA — Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

SOBRE A INUTILIDADE — Zhuangzi

Tsech'i, de Nan-po, estava viajando pela colina de Shang quando viu uma árvore imensa, que o surpreendeu muito. Mil carruagens de quatro cavalos poderiam achar abrigo debaixo de sua sombra.
— Que árvore é esta? — exclamou Tsech'i. — Seguramente deve ter madeira extraordinariamente boa — observou.
Então, viu que seus ramos eram muito tortos para fazer vigas; e olhando para baixo viu que o tronco era retorcido e sem valor para caixões. Ele provou uma folha, mas isso lhe arrancou a pele dos lábios; e seu odor era tão forte que faria um homem se sentir mal durante três dias.
— Ah! — disse Tsech'i, — esta árvore não é realmente boa para nada, e por isso é que atingiu este tamanho. Um homem de espírito poderia bem seguir seu exemplo de inutilidade.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

terça-feira, 22 de julho de 2014

POEMAS DA NEGRA III — Mário de Andrade

Você é tão suave,
Vossos lábios suaves
Vagem no meu rosto,
Fecham meu olhar.

Sol-posto.

É a escureza suave
Que vem de você,
Que se dissolve em mim.
Que sono...

Eu imaginava
Duros vossos lábios,
Mas você me ensina
A volta ao bem.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

SENTA-TE COM CALMA — Chen Chiju

Senta-te com calma por um momento e verás quanto andaste loucamente a correr à toa. Aprende a manter a boca fechada e verás como tens falado em demasia. Evita envolver-te em excessivo número de coisas e verás que tens perdido teu tempo em coisas desnecessárias. Fecha tua porta e verás que te tens misturado com demasiadas espécies de gente. Tem poucos desejos e verás por que tens tido tantas enfermidades. Sê humano e verás que tens criticado demais os outros.

domingo, 20 de julho de 2014

sábado, 19 de julho de 2014

ROSAS — Alphonsus de Guimaraens


Rosas que já vos fostes, desfolhadas
Por mãos também que já se foram, rosas
Suaves e tristes! Rosas que as amadas,
Mortas também, beijaram suspirosas...

Umas rubras e vãs, outras fanadas,
Mas cheias do calor das amorosas...
Sois aroma de alfombras silenciosas,
Onde dormiram tranças destrançadas.

Umas brancas, da cor das pobres freiras,
Outras cheias de viço e de frescura,
Rosas primeiras, rosas derradeiras!

Ai! quem melhor que vós, se a dor perdura,
Para coroar-me, rosas passageiras,
O sonho que se esvai na desventura?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

SOBRE A IMORTALIDADE - Chang Shihyuan [1755-1824]

  Todas as coisas vivas deste universo morrem. Entre plantas, aves, animais e insetos, uns nascem pela manhã e morrem à tarde, uns têm o período de um ano de vida, e uns duram dez, ou cem, ou mil anos. Mas todos morrem. A diferença está simplesmente na extensão do tempo.
  O mesmo é exato quanto ao homem. Quando está vivo, trabalha e se ocupa com alguma coisa, e preocupa-se e planeja como se fosse viver para sempre. Mas, quando seu espírito se dispersa e ele morre, não consegue sequer que cresça carne bastante para lhe cobrir os ossos brancos. A morte lhe chega exatamente como chega às plantas, aves, animais e insetos.
  Um homem educado tem consciência desse fato. Portanto, não encara a vida e a morte como dependentes da existência ou não existência da forma corpórea, e sim do desenvolvimento ou decadência de seu espírito de vida. Quando alguém está perfeitamente bem de corpo, mas seu espírito vital se foi, pode por certo ser tido como morto. Se, porém, o espírito de vida de alguém se desenvolveu para encontrar expressão em princípios de verdade e justiça, ou na literatura, torna-se ele então parte do grande rio da vida deste universo. Está liberto, então, dessa dependência de um corpo material.
  Nos clássicos e na história encontramos os sábios antigos, que morreram há muito tempo, mas cujas luzes brilham através das eras como as estrelas e o sol. Posso em verdade dizer que esses homens ainda estão vivendo conosco. Assim, ser o homem mortal ou imortal depende inteiramente do próprio homem. Todavia, todos os homens morrem e poucos realmente há que se tornam imortais. O intelectual deveria decidir-se e confiar em si mesmo.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

MOTSÉ - CONTRA A GUERRA DE AGRESSÃO

Se alguém invade um jardim particular e furta pêssegos e ameixas, e é descoberto, todos o condenarão como errado. Se for apanhado pelas autoridades, será punido. Por quê? Porque causou dano a outros.
Se alguém rouba a seu vizinho galinhas, porcos e cães, isso é considerado crime mais sério. Por quê? Porque o dano causado a outros é maior. Se o crime cometido é maior, o homem que o faz é considerado pior, e maior é a punição.
Ora, se alguém entra no estábulo de outro e lhe furta os cavalos ou o gado, é ele considerado ainda pior do que o ladrão de galinhas, porcos e cães. Por quê? Porque o mal praticado é maior, ele causa mais danos aos outros e seu crime é maior ainda.
Indo além, se alguém mata um inocente e lhe tira as roupas, a lança e a espada, o mal praticado é ainda maior que o de roubar cavalos e gado. Por quê? Porque quanto mais dano alguém causa aos outros, pior é ele considerado, e maior é o crime.
Todas as pessoas educadas condenam tais ações e as classificam como erradas. Mas as mesmas pessoas não verificam que uma guerra de agressão contra outro país é errada e, em vez disso, louvam-na e lhe dão apoio. Consideram que é certo fazer assim. Poder-se-á dizer que tais pessoas conhecem a diferença entre o certo e o errado?
Considera-se errado matar uma pessoa e o crime é punido por uma morte. Seguindo esse raciocínio, o crime de cometer dez mortes é dez vezes pior que o de matar uma pessoa e o crime do assassino é dez vezes maior. Matar cem pessoas seria cem vezes pior e o crime é multiplicado por cem.
Todas as pessoas educadas condenam tais assassínios e os classificam como errados. Mas as mesmas pessoas não têm consciência de que uma guerra de agressão contra outro país é errada e, em vez disso, louvam-na e lhe dão apoio. Consideram que é certo fazer assim. Não estão realmente conscientes de que isso é errado, pois escrevem a respeito de tais guerras de agressão em seus livros de história. Se soubessem que era errado, não o fariam.
Ora, se alguém condena um pequeno erro como "erro", mas não considera o grande erro da agressão contra um vizinho, e em vez disso lhe dá louvor e apoio, como se poderá dizer que tal pessoa conheça a diferença entre o certo e o errado?
Vemos, portanto, que as pessoas educadas deste mundo não conhecem a diferença entre o certo e o errado.

Motsé [c. 501-416 a.C.]

terça-feira, 15 de julho de 2014

O PESO DO DÓLAR

Tanto a nota de um dólar como a de cem têm o mesmo peso: um grama.
Mas são necessários cem gramas da primeira para igualar o grama da segunda.
Sem falar no peso simbólico da moeda.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

QUANDO O CORAÇÃO ESTÁ VAZIO...

Quando o coração está vazio,
as diferenças são muito importantes.
Dividimos então os Seres Humanos
em tipos, classes, cores, raças...
Quando o coração está cheio de generosidade,
não existem diferenças nem divisões.
Para o ser que busca a verdade
não há divisões.
Buscar a verdade é estar ativo,
é ter sabedoria, é conhecer a Caridade.
Quem anda cegamente por um caminho predeterminado
não pode conhecer a verdade, porque esse caminho se torna, para ele, exclusivo.
Todos nós sofremos, todos temos problemas,
estamos carregados de preocupações e em conflitos incessantes;
a morte, a aflição e o sofrimento
são nossos companheiros constantes.
O princípio categorizador é nitidamente nocivo ao pensamento espiritual.
Dividir os homens em categorias denota ignorância.

Jiddu Krishnamurti - A arte da libertação: do medo, do anseio, do ciúme etc

domingo, 13 de julho de 2014

AFORISMO N° 3 — KAFKA

"Há dois pecados mortais humanos donde provêm todos os outros: a impaciência e a preguiça. Foram expulsos do Paraíso por causa da sua impaciência, não voltam lá por causa da sua preguiça. Mas talvez não haja senão um pecado mortal: a impaciência. Foram expulsos por causa da impaciência e é por causa da impaciência que lá não voltam."
Franz Kafka, Meditações Sobre o Pecado, o Sofrimento, a Esperança e o Verdadeiro Caminho

sexta-feira, 11 de julho de 2014

PLUM MARMALADE [FROM AN OLD BOOK]


This recipe is from a book used by my great-grandmother. It was published in 1897, in Rio de Janeiro, then capital of Brazil.

Plum Marmalade
Peel very ripe plums and remove pits and skins from the inside. Weigh as much of plums as of sugar that you join and boil until marmalade consistence. Then crush four pits of the plums and join it to the marmalade. Four pits are enough for four pounds of marmalade. It is only to give the taste of the fruit.

MARMELADA DE AMEIXAS [DE UM LIVRO ANTIGO]

Esta receita vem de um livro usado por minha bisavó. Foi publicado em 1897, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro.

Marmelada de Ameixas
Descascam-se ameixas bem maduras e tiram-se-lhes caroços e peles do interior. Pesa-se tanto de ameixas como de açúcar que se juntam e fervem até terem consistência de marmelada. Socam-se então uns quatro caroços das ameixas e juntam-se à marmelada. Quatro caroços são suficientes para quatro libras* de marmelada. É só para dar o gosto da fruta.

* 4 libras = 1.814 gramas

quinta-feira, 10 de julho de 2014

NOVE AMEIXAS E UMA IDÉIA





Como disse Chang Chao:
"Somente os que encaram despreocupadamente o que preocupa a gente mundana podem preocupar-se com aquilo que a gente mundana encara despreocupadamente."

quarta-feira, 9 de julho de 2014

TEMA E VOLTAS - MANUEL BANDEIRA [1886-1968]

Mas para quê
Tanto sofrimento
Se nos céus há o lento
Deslizar da noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento
Se lá fora o vento
É um canto na noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento
Se agora, ao relento,
Cheira a flor da noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento
Se o meu pensamento
É livre na noite?

terça-feira, 8 de julho de 2014

MAL SECRETO - RAIMUNDO CORREIA [1859-1911]

Ainda na área da poesia, segue um soneto parnasiano de Raimundo Correia, inspirado numa oitava do poeta italiano Metastasio.

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

AOS QUE SONHAM - RAUL DE LEONI

Para manter viva a memória de um grande poeta, ainda esquecido.

Não se pode sonhar impunemente
um grande sonho pelo mundo afora,
porque o veneno humano não demora
em corrompê-lo na íntima semente...

Olhando no alto a árvore excelente,
que os frutos de ouro esplêndidos enflora,
o sonhador não vê, e até ignora
a cilada rasteira da serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo,
e lembra, a cada instante e a cada dia,
o que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
o calvário do filho de Maria
e a cicuta que Sócrates bebeu!

Raul de Leoni (1895-1926)

domingo, 6 de julho de 2014

MEIAS ABÓBORAS E UM PROVÉRBIO CHINÊS





Sem relação com essas metades de abóbora:
"Sempre que você fizer alguma coisa, aja de forma que isto não dê a seus amigos nenhuma ocasião de desgosto, nem a seus inimigos nenhuma causa de alegria."
Lin Yutang, A Sabedoria da Índia e da China

sábado, 5 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

XANTIPA

Sócrates afirmou que sua esposa, Xantipa, era "a pessoa mais difícil de se relacionar de todas as mulheres que existem".
Se Xantipa bronqueasse menos, Sócrates ficaria mais em casa.