Eu sou por Natureza feito para meu próprio bem; não para meu próprio mal.

Dos Ensinamentos Áureos de Epicteto.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

MODA DE TIRCE (CANTIGAS) — Lereno Selinuntino

Vê, Lereno desgraçado,
O teu destino cruel;
Amar, e morrer de amores,
Por quem te não é fiel.

Vêm os terríveis ciúmes
Rodear-te de tropel;
Hás de contínuo sofrê-los
Por quem te não é fiel.

Dos amantes desgraçados
Vê o terrível painel,
Tanto tens que suportar
Por quem te não é fiel.

Verás as doces promessas
Converter-se amargo fel,
Desvanecer-se a esperança
Por quem te não é fiel.

A mão treme de assustada,
Cai dos dedos o pincel,
Não pinto o que hás de passar
Por quem te não é fiel.

Nunca beleza, e constância
Guardarão próprio nivel;
Sofre por Lília, mas sofre
Por quem te não é fiel.

Embora seja enganado
O néscio amante novel,
Qu'o tempo te desengana;
Por quem te não é fiel.

Mas amor tem arte, e jeito
D'espalhar seu doce mel,
E te faz ser doce a morte
Por quem te não é fiel.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

VELHO TEMA — Vicente de Carvalho

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
E' uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não n'a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

SONETO 2 — Correia Garção

Lutando com mil sustos, mil pesares,
Com desprezos, enganos, e rigores,
A teu rosto gentil, olhos traidores,
Templos lhe consagrei, ergui-lhe altares.

Rociadas de lágrimas a mares
Degolavam as vítimas Amores:
Ara cruel! suspiros, mágoas, dores
Lançava em denso fumo aos mansos ares.

Chegou Marília de mudar-te o dia;
Teias, secure, pira, vasos, fogo,
Tudo rompeste, tudo aos pés pisaste.

Triunfou, triunfou a tirania,
Mas apesar do altivo desafogo
Ilesa a fé, ileso o amor deixaste.

Secure: está assim no original. Não é a palavra inglesa. Se alguém souber o significado, gostaria de receber a informação.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

AJUDA — Garcia de Resende

Suspiros, cuidados,
paixões de querer
se tornam dobrados,
meu bem, sem vos ver.
Não sinto prazer,
sem vós um só dia
viver não queria.

Não quero nem posso,
nem posso querer
viver sem ser vosso,
e vosso morrer.
Pois isto há de ser,
por morte haveria
não vos ver um dia.

CANTIGA PARTINDO-SE — João Roiz de Castelo Branco

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

domingo, 26 de outubro de 2014

SONETO A ORFEU II, 15 - Rainer Maria Rilke

Bocas de fontes, generosas bocas,
Trazendo sempre o vosso canto puro
Pelas golfadas das gargantas roucas:
Ó máscaras talhadas no alto muro!

A água, que pelos aquedutos tensos
Vem dos grotões violáceos do Apenino,
A vetustez dos túmulos suspensos
Dilui no vosso jorro cristalino.

Vão aparando as conchas quais marmóreos
Ouvidos, sussurrantes maravilhas
Da simultânea voz que se propala.

Mas eis que aos pétreos mentos incorpóreos
Chegam criaturas e interceptam bilhas:
Então pára de chofre a vossa fala.

Tradução de José Geraldo Vieira.

sábado, 25 de outubro de 2014

TRÊS VEZES VI, MARÍLIA — Correia Garção

Três vezes vi, Marília, de alva lua
Cheio de luz o rosto prateado,
Sem que dourasse o campo matizado
A linda aurora da presença tua.

Então subindo à serra calva e nua,
De um íngreme rochedo pendurado,
Os olhos alongando pelo prado,
Chamava, mas em vão, a morte crua.

Ali comigo vinham ter pastores,
Que meus suspiros férvidos ouviam,
Cortados do alarido dos clamores.

Tanto que a causa do meu mal sabiam,
Julgando sem remédio minhas dores,
Por não poder-me consolar, fugiam.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O HIEROFANTE — Oswald de Andrade

Não há possibilidade de viver
Com essa gente
Nem com nenhuma gente
A desconfiança te cercará como um escudo
Pinta o escaravelho
De vermelho
E tinge os rumos da madrugada
Virão de longe as multidões suspirosas
Escutar o bezerro plangente

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

FANTASIA DO CREPÚSCULO — Friedrich Hölderlin

Descansa o lavrador à sua porta
E vê o fumo do lar subir, contente.
Hospitaleiramente ao caminhante
Acolhem os sinos da aldeia.

Voltam os marinheiros para o porto.
Em longínquas cidades amortece
O ruído dos mercados; na latada
Brilha a mesa para os amigos.

Ai de mim! de trabalho e recompensa
Vivem os homens, alternando alegres
Lazer e esforço: por que só em meu peito
Então nunca dorme este espinho?

No céu da tarde cheira a primavera;
Rosas florescem; sossegado fulge
O mundo das estrelas. Oh! levai-me,
Purpúreas nuvens, e lá em cima

Em luz e ar se me esvaia amor e mágoa!
Mas, do insensato voto afugentado,
Vai-se o encanto; escurece, e, solitário,
Como sempre, fico ao relento.

Vem, suave sono! Por demais anseia
O coração; um dia enfim te apagas,
Ó mocidade inquieta e sonhadora!
E chega serena a velhice.

Tradução de Manuel Bandeira, grande poeta modernista brasileiro.
 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

DUALISMO — Olavo Bilac

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Corno se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

FOI-SE-ME POUCO A POUCO — João de Deus

Foi-se-me pouco a pouco amortecendo,
A luz que nesta vida me guiava,
Olhos fitos na qual até contava
Ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela anuviando, em a não vendo,
Já se me a luz de tudo anuviava;
Despontava ela apenas, despontava
Logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gêmea da minha, e ingênua e pura
Como os anjos do céu (se o não sonharam...)
Quis mostrar-me que o bem, bem pouco dura.

Não sei se me voou, se ma levaram,
Nem saiba eu nunca a minha desventura
Contar aos que inda em vida não choraram...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ROSA MÍSTICA — Gomes Leal

Do pôr do Sol àquela luz sagrada,
Eu perdia-me... ó hora doce e breve!...
Meu peito junto ao seu colo de neve.
— Numa contemplação vaga e elevada

Nossas almas se erguiam, como deve
Erguer-se uma alma à luz afortunada.
Do mar se ouvia a grande voz chorada.
— Palpitavam as pombas no ar leve.

Eu então perguntei-lhe, baixo e brando:
— Em que mundo de luz é que caminhas?
Que torre está tua alma arquitetando?

Ela travando as suas mãos nas minhas
Me disse, ingênua, então: — Estou cismando
No que dirão, no ar, as andorinhas.

domingo, 19 de outubro de 2014

TRATO SÓ DA PERPÉTUA SAUDADE — José Albano

Trato só da perpétua saudade
Que mora neste peito desditoso,
Mas o queixume derramar não ouso
Com medo de que aos outros desagrade.

Se entanto de gemer me dissuade
O coração, tão cedo desgostoso,
Ordena e manda Amor que sem repouso
Tudo que sofro em canto se traslade.

Oh! triste verso meu, pois vais partindo
Por este baixo e escuro mundo em que ando
Para espalhar o meu tormento infindo:

Ah! seja o teu destino manso e brando,
Porém, se te alguém ler acaso rindo,
Dize-lhe então que te escrevi chorando!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

MENINO E MOÇO - António Nobre

Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim:
Voou aos altos Céus a pomba enamorada
Que dantes estendia as asas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo com torres de marfim!

Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infância,
Que me enchiam de lua o coração, outrora,
Partiram e no Céu evolam-se, à distância!

Debalde clamo e choro, erguendo aos Céus meus ais:
Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, Senhor! elas não voltam mais...

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CISNES - Júlio Salusse

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente,
Um lago azul sem ondas, sem espumas.

Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DE TARDE — Cesário Verde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

domingo, 12 de outubro de 2014

NA MÃO DE DEUS - Antero de Quental

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

sábado, 11 de outubro de 2014

PARA EVITAR A MISÉRIA NA VELHICE

Se cada vivente pensasse ver terminada pelo menos uma parte das coisas que faz, seriam os intelectos humanos muito mais despertos e previdentes do que são em suas ações; e se acreditassem que devem continuar a viver quando já não podem mais trabalhar, grande parte deles não teria que mendigar, em sua velhice, aquilo que sem parcimônia desperdiçaram na juventude e nos outros tempos seguintes, quando os copiosos e grandes ganhos, cegando a própria razão, os levavam a despender além do necessário e muito mais do que convinha. Pois que são malvistos aqueles que do muito caíram ao pouco, para não chegarem a tal fim, freariam mais os seus apetites, e com maturidade e discernimento agiriam em seus negócios.

Giorgio Vasari, Vidas dos Artistas, introdução à vida de Michelozzo Michelozzi

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O LOBO E O CORDEIRO - Esopo e Fedro

Primeiro, a fábula mais antiga, a de Esopo:

Um Lobo descobriu um Cordeiro que vagueava longe do rebanho, e sentiu alguma compunção com relação a tirar a vida de uma criatura tão desamparada, sem alguma desculpa plausível. Assim procurou ansiosamente uma alegação que justificasse uma retaliação e disse por fim:
"Ano passado, senhor, você me insultou grosseiramente."
"Isso é impossível, senhor", berrou o Cordeiro, "porque eu ainda não tinha nascido."
"Bem", replicou o Lobo, "você se alimenta em meus pastos."
"Isso não pode ser", respondeu o Cordeiro, "porque eu ainda não como grama."
"Você bebe de minha fonte, então", continuou o Lobo.
"Realmente, senhor", disse o pobre Cordeiro, "eu ainda não bebi nada além do leite de minha mãe."
"Bem, de qualquer maneira", disse o Lobo, "eu não vou embora sem meu jantar"
E pulou sobre o Cordeiro e o devorou sem mais cerimônias.

Outra versão da fábula de Esopo:

Um lobo viu um cordeiro que bebia água de um rio e pretendeu acobertar-se com um motivo razoável para devorá-lo. Assim, embora estivesse acima da corrente, acusou o cordeiro de enlamear a água e de impedi-lo de beber. O outro respondeu que bebia com a ponta dos lábios e que, além disso, era-lhe impossível, estando abaixo da corrente, fazer qualquer coisa com a água que fluía acima.
Rechaçado nesse ponto, disse o lobo:
— Sim, mas no ano passado você insultou meu pai.
— Eu! Mas eu nem mesmo era nascido no ano passado!
— Muito bem, retomou o lobo: Você pode ter todo tipo de boas razões; quanto a mim, isso não me impedirá de devorá-lo.

Vê-se muito isso: para aquele que está determinado a agir com injustiça, as justas razões não têm a menor força.

A seguir, a de Fedro:

Um lobo e um cordeiro, impelidos pela sede, tinham vindo ao mesmo regato; o lobo estava mais acima e o cordeiro muito mais abaixo. Então o ladrão, incitado pela goela insaciável, alegou um pretexto para uma disputa.
Disse: "Porque turvaste a minha água, enquanto estou bebendo?"
O cordeiro, temeroso, respondeu: "Diga-me, por favor, como posso fazer isso de que te queixas, ó lobo? A água corre de ti para os meus sorvos."
Aquele, desconcertado pela força de verdade, disse: "Seis meses atrás me caluniaste."
O cordeiro respondeu: "Na verdade, há seis meses eu ainda não tinha nascido."
"Por Hércules," disse o Lobo, " então foi o teu pai quem me caluniou."
E assim ele o dilacerou, matando o cordeiro injustamente.

Esta Fábula é aplicável a esses homens que, sob falsos pretextos, oprimem o inocente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

CANÇÃO DE GINETE — García Lorca

Uma tradução apenas para dar a conhecer. Sem maiores pretensões, principalmente poéticas.

Córdova.
Distante e só.

Mula negra, lua grande,
e azeitonas em meu alforje.
Ainda que saiba os caminhos
eu nunca chegarei a Córdova.

Pela planície, pelo vento,
mula negra, lua rubra,
a morte me está mirando
desde as torres de Córdova.

Ai que caminho tão longo!
Ai minha mula valorosa!
Ai que a morte me espera,
antes de chegar a Córdova!

Córdova.
Distante e só.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PLATERO 1 — Juan Ramón Jiménez

Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio por fora, que se diria todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche de seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.
Deixo-o solto, e se vai ao prado, e acaricia levemente com seu focinho, roçando-as apenas, as florezinhas rosas, celestes e amarelas... Chamo-o docemente: "Platero?", e vem a mim com um trotezinho alegre, que até parece que se ri, com um não sei que tilintar ideal...
Come tudo que lhe dou. Gosta de laranjas mandarinas, uvas moscatéis, todas de âmbar, os figos roxos, com sua cristalina gotinha de mel...
É terno e mimoso como um menino, uma menina...; mas forte e seco como se fosse de pedra. Quando passo, montado nele, nos domingos, pelas últimas ruas do povoado, os homens do campo, vestidos com roupas limpas e sem pressa, ficam a mirá-lo:
— É de aço...
É de aço. Aço e prata da lua, ao mesmo tempo.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

DA MAIS ALTA JANELA DA MINHA CASA — Alberto Caeiro

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

OPINIÃO SOBRE O BEM E O MAL — Montaigne

Homens (diz um antigo provérbio grego) são atormentados pelas opiniões que têm das coisas e não pelas coisas em si. Seria uma grande vitória obtida para o alívio de nossa miserável condição humana, se esta proposição pudesse ser estabelecida como totalmente verdadeira. Pois se os males têm entrada em nós apenas pelo julgamento que nós mesmos fazemos deles, parece que está, então, em nosso próprio poder os menosprezar ou os transformar em bem. Se essas coisas dependem de nós, por que nós não as transformamos e as adaptamos para nosso proveito? Se o que chamamos mal e tormento não é nem mau nem tormento por si mesmo, mas só nossa fantasia é que lhes atribui tal qualidade, podemos mudar isto. E se isto só depende de nossa própria escolha, se não há nada nos coagindo, seríamos certamente muito tolos, em fortificar aquilo que nos é muito prejudicial, atribuindo à doença, à privação, e ao desprezo um gosto amargo e repugnante, se está em nosso poder lhes dar um alívio prazeroso. E se o destino apenas fornece o assunto, a nós é que cabe lhe darmos forma.

domingo, 5 de outubro de 2014

SOBRE JIMÉNEZ E PLATERO

Juan Ramón Jiménez (1881–1958) foi um poeta espanhol, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1956.
É o autor de Platero e eu, um livro de poemas em prosa (narração lírica), que narra a vida e a morte do asno Platero. A primeira edição foi em 1914, há cem anos.
O asno "Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio por fora, que se diria todo de algodão" [...]

sábado, 4 de outubro de 2014

A FLOR DO CAMINHO — Juan Ramón Jiménez

Como é pura, Platero, e como é bela esta flor do caminho! Passam a seu lado todos os tropéis – os touros, as cabras, os potros, os homens – e ela, tão tenra e tão frágil, permanece erguida, malva e delgada, em seu cercado solitário, sem contaminar-se com impureza alguma.
Todos os dias, quando, ao começar a encosta, tomamos o atalho, tu a viste em seu verde recanto. Já tem a seu lado um passarinho, que se eleva – por quê? – ao nos aproximarmos; ou está repleta, como uma pequena taça, da água clara de uma nuvem de verão; e permite o roubo de uma abelha ou o volúvel adorno de uma mariposa.
Esta flor viverá poucos dias, Platero, embora sua lembrança possa ser eterna. Será sua existência como um dia de tua primavera, como uma primavera de minha vida... O que eu não daria ao outono, Platero, em troca desta flor divina, para que ela fosse, diariamente, o exemplo singelo e sem fim da nossa vida?!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

QUEM CONTROLA A MÚSICA POPULAR...

Kelan Phil Cohran

"Quem controla a música popular controla as pessoas."

Kelan Phil Cohran, músico de jazz, tocou na Sun Ra Arkestra in Chicago durante 1959-1961.
Entrevista
Canal Bis
Episódio de Minha Loja de Discos, dedicado à clássica loja Jazz Record Mart e seu selo independente, Delmark.

O endereço da imagem é:
http://forum.rollingstone.de/showthread.php?45967-Phil-Cohran


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O PIANO DE PAUL DESMOND

Paul Desmond possuía um piano de cauda Baldwin, que ele emprestou a Bradley Cunningham, dono do Bradley's Piano Bar em Greenwich Village, com a condição de que Cunningham levasse de volta o grande piano para o apartamento de Desmond, a fim de se tornar parte da herança de Desmond. Depois desta mudança longa e cara, Desmond legou o piano a Cunningham, numa derradeira e típica piada.
Ele doou todos os rendimentos provenientes da música Take Five, que foi o maior sucesso do Dave Brubeck Quartet, para a Cruz Vermelha, após sua morte de câncer pulmonar (em consequência do cigarro).

Tradução adaptada da Wikipedia em inglês:
http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Desmond